O imigrante e a depressão

“Síndrome de Ulisses”, assim que foi batizada uma nova doença do foro psicológico que esta afetando cada vez mais imigrantes na Europa e Estados Unidos, o nome veio de um livro escrito na forma de romance publicado nos anos 90 que retrata a vida dos imigrantes em Paris. Entretanto o fenômeno é mundial, uma vez que a rotina de muitos imigrantes tem sido a mesma em diversos países que se tornaram destino de imigrantes de diversas nacionalidades. Em qualquer pais de mundo, os imigrantes vêem-se obrigados a viver, muitas vezes, em clandestinidade e expostos a problemas legais e econômicos, estas situações acabam por levar a diferentes sintomas, nomeadamente a depressão, ansiedade, nervosismo, insônias e irritabilidade.
A experiência de migrar é marcante o suficiente para mudar os referenciais no indivíduo, a experiência de ser um imigrante é extremamente complexa e significantemente transformadora, o contato com uma nova cultura e a necessidade em reafirmar sua identidade nem sempre acaba resultando em experiências positivas e construtoras para muitos imigrantes.
A depressão entre imigrantes brasileiros tem a mesma origem entre imigrantes de outras nacionalidades, os motivos são os mesmo, excesso de trabalho, poucas horas de sono, o psicológico sendo afetado pela perda da identidade, da auto-estima e solidão.
Para a psico-terapêuta Sandra Ferreira, que trabalha com pacientes com distúrbios psicólogos, crianças autistas e pessoas em crise existencial, em sua clínica Holística em Newton, a depressão é o pior problema dos nossos dias, principalmente entre os imigrantes.
Segundo a teoria holística, aplicada pela psico-terapêuta, uma pessoa é um todo indivisível, onde físico, o mental, o psicológico e o espiritual são apenas diferentes aspectos deste mesmo indivíduo. Para Sandra estes aspectos são indivisíveis e interagem mutuamente e por isto, devem ser entendidos e tratados como um todo para que o indivíduo alcance o equilíbrio é que conhecido como saúde e bem estar. As técnicas utilizadas por Sandra em seu consultório em Newton variam desde uma sessão convencional (com técnicas verbais como exploração dos problemas e sentimentos envolvidos, interpretação de sonhos) e técnicas não verbais (musico-terapia, relaxamento e Florais de Bach e hipnose. Enfim, todas técnicas utilizadas são discutidas, o cliente é detalhadamente avaliado e então elas são delineadas conforme cada caso.
Em uma entrevista concedida ao Jornal Brazilian Extra, a psico-terapêuta falou sobre a depressão e a perda de identidade que acontecem no processo migratório.
Extra :O excesso de cobrança que o imigrante impões a ele mesmo pode contribuir para o desenvolvimento da depressão?
Sandra : É um dos fatores, porque muitas vezes o imigrante não reavalia as mudanças que ocorrem em seu meio e isto contribui para o agravamento do estado depressivo, as cobranças que foram estabelecidas quando ele não tinha uma noção realista do que seria a vida em um determinado antes de migrarem. Quem sabe ele ou ela só precisem repensar suas metas e redefini-las de acordo com a nova realidade que ele ou ela está enfrentando, nunca se esquecendo, é claro de cuidar da sua saúde.
Extra : Como o imigrante pode lidar com os reveses?
Sandra : Os revezes não significam um fracasso como pessoa, ele não terá mais ou menos valor como pessoa caso tenha fracassado ou não em suas metas.
Extra : Você sabe de algum caso de imigrantes que retornaram a seus países de origem e não se adaptaram a realidade que encontraram?
Sandra : Conheço inúmeros casos. Algumas pessoas vão e voltam várias vezes (quando podem), até se convencerem de que elas mudaram muito com a experiência de imigração. As que se reajustam num lugar ou em outro, são aquelas que assumem isso e que elas tem que construir novas formas de ser feliz, onde quer que estejam.
Extra : Quais os sinais que o imigrante deve estar atento e que denunciam a depressão?
Sandra : A depressão pode começar com alterações no sono, no apetite, no interesse em fazer coisas que antes davam prazer ao indivíduo, irritabilidade, tonturas, ânsia de vômito, cansaço e falta de motivação. Aí pode se estender a disfunções sexuais (falta de interesse sexual por um período prolongado), ansiedade até chegar a um desinteresse pela vida.
Extra : Existe alguma terapia que o imigrante pode fazer para minimizar os efeitos da depressão?
Sandra : É muito importante planejar seu dia de forma que o indivíduo tenha horários regulares de refeição e de sono. Oito horas de sono por dia são a média saudável para manter sua saúde física e mental. Sem comida, bastante água e uma rotina regular de sono, qualquer pessoa está sujeita a contrair doenças físicas e atingir diferentes níveis de desequilíbrio mental.
Extra : Nossa comunidade tem sido palco do aumento da violência doméstica, o comportamento agressivo de muitos imigrantes pode ser tratado?
Sandra : Sem dúvida que sim. As vezes a violência é conseqüência da depressão e/ou da perda da auto-estima. Nestes casos, o tratamento da depressão por terapia e/ou medicação diminuirão o comportamento agressivo. Outras vezes são devidos há maus hábitos que os indivíduos adquirem e que tem que ser reeducados de uma forma ou de outra. Na pior das hipóteses através dos meios legais de punição, caso não haja nenhum diagnóstico por trás.
Extra : Você faz terapia com casais a fim de harmonizar suas relações?
Sandra : Sim, em casos de violência domestica a terapia de casal não é a mais indicada a principio. Mas em outros casos é bastante útil e pode transformar totalmente a vida de toda a família, trazendo de volta o amor, amizade.
Fonte: A Semana (Massachusetts, EUA), 27/03/07.